sexta-feira, janeiro 26, 2007

Abstenção cresce com o "sim" a perder terreno

Abstenção cresce com o "sim" a perder terreno


Paulo Martins



Preocupantes sintomas de crescimento da abstenção eis o mais relevante indício do comportamento do eleitorado perante o referendo à interrupção voluntária da gravidez recolhido pela sondagem da Universidade Católica, que hoje publicamos. O estudo, realizado para o JN, RTP e Antena 1, revela que em três meses - desde o último, de Outubro passado - o sim à despenalização perdeu 13% dos adeptos, preservando ainda assim uma vantagem de 18%.

O número de eleitores que decidiu não se deslocar às mesas de voto a 11 de Fevereiro cresceu quase tanto como o de indecisos, o que reduziu a percentagem de inquiridos que dá garantias de exercício do seu dever cívico. Os fenómenos de recusa de participação na consulta ou de alheamento do processo, mais acentuados no Alentejo e entre os mais idosos, demonstram que a intervenção de movimentos cívicos e partidos nesta fase de pré-campanha não está a ser mobilizadora. Exemplo quase um terço dos eleitores do Bloco de Esquerda, que apela ao sim, não está disposto a votar.

O carácter vinculativo do referendo - reconhecido apenas se a abstenção for inferior a 50% - pode assim estar posto em causa. A própria sondagem revela a perplexidade a esse respeito instalada no eleitorado. Com efeito, 41% dos inquiridos sustentam que a participação será inferior a metade dos eleitores inscritos e 39% têm a opinião contrária (há ainda 20% sem opinião formada).

Menos dúvidas se levantam quando a questão é saber que opção supõe o eleitor que vencerá, independentemente da sua posição pessoal 46% perspectivam o sim e 29% o não. Um em cada quatro inquiridos prefere não avançar prognósticos.

O conjunto de variáveis fornece conclusões relativamente previsíveis. Desde logo, a influência religiosa na opção pelo não. Mas também o facto de a despenalização do aborto ser uma causa da Esquerda (o PSD é o partido mais dividido, o que justifica a "neutralidade" oficial) e de a recusa de mudança ser maioritária a Norte.

Os nortenhos apresentam posições bem mais definidas (apenas 17% não vão votar). Cruzado com os sinais de abstenção detectados nas outras regiões, este dado pode indiciar uma inversão da tendência de voto. Uma análise mais fina neste campo - que separasse Litoral do Interior - ajudaria porventura a percepcionar melhor os estados de alma do eleitorado.


Jovem

Os inquiridos com idade até 34 anos são os mais favoráveis à despenalização do aborto.



Completou o secundário

Nível de instrução não é decisivo. O sim tem menos adeptos entre os detentores de grau superior.



Reside na Grande Lisboa


Mais de metade é pelo sim, nesta região. O Algarve aproxima-se.



Ateu

Sete em cada dez inquiridos que se assumem como "nada religiosos" são favoráveis ao sim.



Militante de Esquerda

Comunistas têm opção firme. Entre socialistas ainda há divisões,


Idoso

Um terço dos eleitores com 55 ou mais anos é pelo não. Mas 27% perfilham a opção contrária.



Com pouca instrução

A mais alta percentagem de nãos surge no grupo dos que têm menos do que o secundário.



Nortenho

A região Norte é a única onde o não regista uma vitória, aliás clara.



Crente

Quem neste estudo se assume como "muito religioso" é maioritariamente pelo não.



Simpatizante da Direita

Só 19% dos eleitores do CDS defendem a despenalização.


Ficha Técnica Esta sondagem foi realizada pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica (CESOP) para a Antena 1, a RTP e o Jornal de Notícias nos dias 20 a 22 de Janeiro de 2007. O universo alvo é composto pelos indivíduos com 18 ou mais anos recenseados eleitoralmente em Portugal Continental. Foram seleccionadas aleatoriamente dezanove freguesias do país, tendo em conta a distribuição da população recenseada eleitoralmente por regiões e por freguesias com mais e menos de 3000 habitantes. A selecção aleatória das freguesias foi sistematicamente repetida até que os resultados eleitorais das eleições legislativas de 2005 nessas freguesias estivessem a menos de 1% dos resultados nacionais dos cinco maiores partidos, ponderado o número de inquéritos a realizar em cada freguesia. Os domicílios em cada freguesia foram seleccionados por caminho aleatório e foi inquirido em cada domicílio o mais recente aniversariante recenseado eleitoralmente na freguesia. Foram obtidos 1257 inquéritos, sendo que 55,1% dos inquiridos eram do sexo feminino. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população com 18 ou mais anos residente no Continente por sexo, escalões etários e qualificação académica, na base dos dados do Censos. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1257 inquiridos é de 2,8%, com um nível de confiança de 95%.

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