quarta-feira, janeiro 31, 2007

Louçã confiante na vitória do "sim" no referendo


O dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã acusou terça-feira o líder do PSD, Marques Mendes, de criticar a pergunta do referendo à despenalização do aborto que ele próprio tinha aprovado há alguns meses. «O Marques Mendes de Aveiro acusou o Marques Mendes de Lisboa de ter aprovado uma pergunta enganosa para ele próprio», disse o dirigente do Bloco, no comício abertura de campanha nacional do referendo ao aborto. O Bloco de Esquerda começou a campanha do referendo para a despenalização do aborto, em Setúbal, perante uma sala cheia. A cidade foi escolhida por ser o local onde se efectuou o último julgamento de mulheres por terem abortado.

O primeiro discurso da noite esteve a cargo da advogada Alice Brito que, numa muito aplaudida intervenção, relatou os aquilo a que o Ministério Público e a polícia sujeitaram as mulheres processadas na Maia. Numa altura em que os partidários do “não” escolhem textos da escritora light Rita Ferro para garantir que as mulheres que abortam o fazem por questões fúteis, tal como “o vestido não lhes servir”, Alice Brito lembrou os problemas sociais dessas mulheres que foram sujeitas as mulheres: “Carla, 26 anos, deixou 2 fios, 4 pulseiras de criança e um anel; Carminda, 31 anos, três filhos, separada e desempregada, tinha de pagar 92 contos, pagou 45, uma medalha de ouro e ficou a dever o resto;Rita, 36 anos, operária, deixou ficar o anel de noivado e dois cheques;Teresa, 27 anos, cozinheira, com um relacionamento esporádico, pagou 40 contos, um fio, três anéis, uma aliança e um par de brincos;Piedade, 34 anos, empregada de balcão, deixou cinquenta contos e dois anéis;Maria João, 38 anos, cabeleireira, dois filhos, sem relação estável, deixou 70 contos e uma pulseira; Maria Manuela, 35 anos, recepcionista, deixou 15 contos e um cordão de ouro;Sandra, 18 anos, pediram cem contos, deixou quarenta, um fio de ouro, um anel, uma pulseira e ficou a dever trinta contos;Paula, 19 anos, desempregada, seis semanas de gravidez, 45 contos e uma pulseira.”
As intervenções seguintes foram proferidas pelos deputados do Bloco de Esquerda no distrito, Fernando Rosas e Mariana Aiveca. O primeiro fez um repto à hierarquia da Igreja, pedindo que entendesse que o voto de toda a gente, inclusive dos cristãos é um “voto livre”, apenas sujeito à consciência de cada qual.
Mariana Aiveca afirmou que a liberdade passa neste referendo por colocar Portugal ao nível dos seus congéneres europeus.
Na sua intervenção, Francisco Louçã começou por sublinhar que «O “Sim“ vai ganhar em Setúbal e por uma grande margem», prognosticou Louçã, que justificou o início de campanha do Bloco em Setúbal com o facto de se tratar da «cidade onde decorreu o último julgamento de mulheres acusadas da prática de aborto».Francisco Louçã criticou os argumentos apresentados nos últimos dias pelos defensores do «Não» «O “Não” tem dois discursos», disse Francisco Louçã, acrescentando que nenhum deles reconhece à mulher o direito de decidir sobre a sua gravidez.Louçã lembrou ainda que o voto no «Não» se traduz na punição das mulheres que praticam aborto com uma pena de prisão até 3 anos. «O “Sim” pretende apenas uma lei igual às leis europeias», argumentou.O dirigente do Bloco insurgiu-se com a proposta das deputadas independentes do PS (originárias do CDS) que pretende manter o aborto como crime no Código Penal sujeito a três anos de prisão, mas admitem que as mulheres não sejam presas, desde de que “se declarem criminosas e aceitem penas e punições, sem direito a recurso”.Francisco Louçã acredita que muita coisa mudou desde a vitória do “Não” no referendo de 1998 e mostrou-se confiante na aprovação de uma alteração da lei no referendo que terá lugar dia 11 de Fevereiro.

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