sexta-feira, dezembro 29, 2006

Recortes Natalícios I

Igreja aproveita Natal para mensagens contra aborto

Posição da Igreja

DN
Martim Silva*

A menos de dois meses do referendo nacional sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, a Igreja Católica portuguesa aproveitou as homilias de Natal para deixar uma mensagem forte contra a prática do aborto.

O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, falou do tema na sua mensagem de Natal (transmitida pela televisão). No Porto, o novo responsável da diocese, D. João Miranda (foi nomeado administrador apostólico da Diocese do Porto, a maior do País em número de paróquias, devido à doença do bispo D. Armindo Lopes Coelho) foi ainda mais longe, comparando o aborto a práticas da Idade Média - o que valeria reacções dos movimentos do "sim" e do "não" ao longo do dia de ontem (ver textos em baixo).

A mensagem de Natal do cardeal-patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo, foi dedicada ao tema da exclusão social. Lembrou as crianças sem família, os ex-reclusos, os idosos, os deficientes e os desempregados. Mas o religioso também falou do aborto. Um tema caro para a Igreja, e um assunto politicamente "quente", uma vez que já no início de Janeiro de 2007 se entra em pleno na pré-campanha do referendo sobre o aborto - a consulta nacional realiza-se a 11 de Fevereiro.

O aborto, disse Policarpo, "sejam quais forem os motivos é sempre negar um lugar a um ser humano".

Mais contundente, se quisermos pôr as coisas assim, foi a mensagem deixada aos fiéis por D. João Miranda, no Porto. O administrador apostólico da Diocese do Porto deixou claro que não só a interrupção voluntária da gravidez representa uma violação do mandamento "Não matarás", como significa mesmo o regresso ao "tempo dos expostos, dos meninos da Roda dos Mosteiros da Idade Média" - uma prática que consistia na entrega dos bebés enjeitados aos mosteiros, para aí serem educados (evitando-se assim os infanticídios).

"Todas as interrupções provocadas são actos imaturos e traduzem-se no "fim de um processo que devia desaguar na vida", acrescentou o religioso do Porto.

Sem falar explicitamente no sentido de voto no referendo de 11 de Fevereiro, D. João Miranda esteve lá perto. Na homilia, referiu-se ao período de campanha referendária que aí vem como o "período de escolha da vida das crianças por nascer". Mais, "a vida é o dom mais precioso que temos e ninguém pode dispor da vida própria, muito menos da vida alheia", adiantou.

O Parlamento aprovou a realização de um referendo sobre o aborto a 19 de Outubro e logo no dia seguinte a Igreja portuguesa reuniu a sua Conferência Episcopal, que apelou aos fiéis católicos para que votem "não", sublinhando que o aborto provocado "é um pecado grave".

Em Portugal já se realizou um primeiro referendo sobre o aborto, em 1998, com o "não" a sair vencedor, por escassa margem, e com uma elevada abstenção, de mais de 50 por cento dos eleitores.

O PS, PCP e BE são pelo "sim", o CDS pelo "não", enquanto o PSD é o único partido parlamentar sem posição oficial neste assunto.

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