quinta-feira, dezembro 14, 2006

Associação para o Planeamento da Família publica estudo

12.12.2006 - 18h58 Lusa

Uma em cada três mulheres que interrompeu voluntariamente a gravidez através de comprimidos teve depois a necessidade de recorrer a um serviço de saúde para completar a intervenção, segundo um estudo da Associação para o Planeamento da Família, que vai ser apresentado amanhã.

De acordo com o estudo base sobre as práticas de interrupção voluntária da gravidez (IVG) em Portugal, 14,5 por cento das mulheres entre os 18 e os 49 anos já recorreu ao aborto.

Os dados da Associação para o Planeamento da Família (APF) indicam que as portuguesas praticaram entre 17.260 a 18 mil abortos no último ano e que já recorreram à IVG entre 346 mil a 363 mil mulheres.

A APF revela no mesmo inquérito - que envolveu duas mil mulheres - que a grande maioria fez um único aborto e que 73 por cento das que realizaram a IVG fizeram-no até às dez semanas da gravidez.

Grau de instrução não influencia decisão

O estudo, que será apresentado na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, indica que o grau de instrução não influencia na decisão da prática de IVG: 15,4 por cento das mulheres que recorreram ao aborto têm o ensino básico, 13,2 por cento o secundário e 14,1 por cento o ensino superior.

A religiosidade demonstra uma influência mais significativa, já que 16,7 por cento das mulheres que realizaram aborto eram não praticantes, 11,4 por cento praticantes ocasionais e 2,6 por cento praticantes frequentes.

A esmagadora maioria das mulheres fez o primeiro aborto com dez ou menos semanas de gestação, também de acordo com o estudo.

Decisão considerada muitíssimo difícil

O facto de serem muito jovens foi a razão que mais levou as mulheres a decidir abortar, uma decisão que a maioria classificou de muitíssimo difícil ou muito difícil, revela igualmente o estudo da APF.

O método de IVG mais utilizado foi a raspagem, seguido de comprimidos e aspiração. Em relação aos comprimidos, a maioria das mulheres arranjou-os através de uma pessoa amiga.

Segundo os mesmos dados referentes aos comprimidos, 34,5 por cento das mulheres teve necessidade de recorrer a um serviço de saúde para completar o aborto.

Hemorragias e problemas emocionais

As hemorragias são os problemas mais frequentes da IVG, seguidas de problemas emocionais, salienta também o inquérito elaborado pela APF.

Para resolver estes problemas, as mulheres recorreram ao médico particular (31,9 por cento) ou ao hospital (21,3 por cento), enquanto 27,4 por cento tiveram necessidade de internamento.

Uma casa particular foi o local de realização do aborto mais indicado pelas mulheres que praticaram a IVG, seguida de uma clínica privada e consultório público.

Médico é o profissional mais citado

O médico, seguido da parteira e do enfermeiro, foi o profissional mais indicado pelas mulheres como autor da IVG.

Segundo o estudo, as pessoas amigas foram a principal fonte de informação sobre o local de realização da IVG.

A investigação da APF apurou ainda que 14,3 por cento das mulheres praticou a IVG em Espanha, realizando as restantes em Portugal.

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