terça-feira, fevereiro 06, 2007

Encontro Nacional sobre o tema: “Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez”

O Clube Safo organizou, dia 27 de Janeiro no Porto, um Encontro Nacional sobre o tema: “Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez”.
Este tema foi escolhido por considerarmos que é fundamental a nossa participação nas questões marcantes da nossa sociedade. Entendemos que a luta pela defesa dos direitos das lésbicas não é uma luta isolada, por isso defendemos a transversalidade na intervenção social e política: quanto mais direitos e liberdades forem conquistados numa determinada área, mais direitos e liberdades são conquistados para tod@s.

Foi feita uma reflexão e discussão, com base no “Estudo-Base sobre as Práticas do Aborto em Portugal”, realizado pela Associação para o Planeamento da Família, e destacaram-se as seguintes questões:

Contracepção: foi considerado muito preocupante que uma grande percentagem de mulheres que realizaram um aborto não estivessem a usar qualquer método contraceptivo, e que uma considerável percentagem de mulheres estivessem a utilizar técnicas que não podem ser considerados métodos contraceptivos (“fazer contas”).
Foi, assim, realçada a necessidade urgente de investir na educação sexual. A informação sobre os métodos contraceptivos, sobre a forma de os utilizar e sobre como os adquirir, deve chegar a todos e a todas, quer através da escola, quer através do médico/a de família. Foi ainda considerado fundamental garantir a confidencialidade quando assim for desejado por cada pessoa.
No entanto, foi enfatizado que os métodos contraceptivos podem falhar e que as mulheres poderão engravidar, mesmo que utilizem correctamente a contracepção. A probabilidade de tal acontecer é, porém, baixa.

Aconselhamento sobre contracepção após o aborto: foi considerado grave o facto da grande maioria das mulheres não ter sido aconselhada sobre contracepção depois do aborto. Foi realçada a importância deste aconselhamento acontecer para que sejam evitadas futuras gravidezes não desejadas, tendo sido dito que o facto da interrupção voluntária da gravidez acontecer num estabelecimento de saúde autorizado poderá garantir esta questão fundamental.

Complicações de saúde após o aborto: uma questão que mereceu preocupação e reflexão é a da necessidade que muitas mulheres tiveram de recorrer a um serviço de saúde para completar o aborto depois de ter utilizado o método dos “comprimidos”. Mais de metade das mulheres que utilizaram comprimidos para interromper voluntariamente a gravidez, não os tiveram por recomendação médica, tendo sido arranjados por uma pessoa amiga.
A inseguranças na prática do aborto em Portugal poderá ser reduzida com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez até às 10 semanas, após o referendo.

Decisões difíceis: foi reconhecido como expectável que a decisão de interromper voluntariamente a gravidez tenha sido considerado difícil, muito difícil ou muitíssimo difícil pela grande maioria das mulheres. Considerou-se uma excepção que as mulheres pudessem não considerar difícil recorrer à IVG.


Foi a primeira vez que organizámos um encontro sobre um tema não especificamente relacionado com a defesa dos direitos das lésbicas. Pela primeira vez, também, tivemos um encontro com tão poucas mulheres.
Perante este facto, sentimos a necessidade de nos questionarmos sobre as possíveis causas da fraca adesão das mulheres, que habitualmente participam nas actividades do Clube Safo.

O debate com as mulheres presentes no encontro, levantou algumas questões:

□ Existirem muitas iniciativas sobre este tema, na mesma altura e promovidas por diversas associações.

□ O tema não ser muito significativo para a vida privada das lésbicas e existir falta de solidariedade para com @s heterossexuais.

□ Algumas lésbicas e homossexuais têm tendência a ser menos participativos nas questões fracturantes da sociedade, assumindo uma atitude de “adaptação” passiva às normas sociais numa tentativa de se protegerem da rejeição social.

□ Outros temas relacionadas com a cidadania, mas não especificamente relacionados com as lésbicas, poderiam ter mais adesão?

□ As pessoas que são discriminadas são mais solidárias com outras discriminações diferentes? Ou antes pelo contrário ficam mais centradas nos seus problemas?

□ As mulheres não vieram ao encontro, mas irão votar no dia do referendo?


Não foram encontradas nenhumas respostas conclusivas. Mas ficaram no ar algumas interrogações e dúvidas que nos poderão levar a futuros debates sobre o envolvimento e participação das lésbicas nas acções de defesa de direitos não especificamente relacionados com a discriminação com base na orientação sexual. Será certamente um tema interessante para aprofundarmos.

E como mensagem final queremos deixar o apelo - no dia 11 de Fevereiro vão votar!

8 comentários:

Anónimo disse...

se há uma coisa que não percebo, é: porque é que parece de alguma maneira irritar (não, não digo isto em jeito de provocação) os do sim quando se diz que nós, do não, criámos dezenas de instituições para ajudar as mulheres (mais de cem mil - digo numeros porque sou representante de uma delas)?
Não é uma coisa boa? AS mulheres são aí tratadas; aí são-lhes dadas condições de ter o seu filho; mulheres que aparecem lá a dizer que vão fazer um aborto, são acolhidas e ficam lá meses de seguida, onde os seus bébés nascem e são-lhes dadas competências para educarem as suas crianças!
Será que isto não é bom? será que isto é "não fazer nada desde que ganharam o referendo de 98"?
Será que uma mulher ajudada a ter um filho, a ter condições para ter o seu filho, será que isso não é melhor?
E a minha experiência é que é de 0,01% a percentagem das mulheres que, depois de ajudadas nas várias instituições, saem insatisfeitas: claro que saem contentes: tiveram o seu filho, e têm-no com condições!
Importante é lembrar que nós funcionamos com fundos PRIVADOS, assim como funcionam a maior parte destas instituições: relembro que TODOS concordamos que o aborto é um MAL, que quanto menos melhor!
Convido os do sim a olharem para esta realidade, e, ao invés de lutar para a despenalização do aborto, lutem, CONOSCO, para pedir a atenção (que não existe-porquê????) do Estado para nós, instituições!
Um aborto É um mal: ajudem-nos, da melhor maneira possível - ajudando a MULHER, ajudando o seu FILHO!

Anónimo disse...

Razões éticas/religiosas para o sim:

Inquietações:

Se a vida é eterna, se somos eternos e engendrados amorosamente em Deus desde toda a eternidade, porquê esta obsessão que os humanos têm apenas com a vida terrena (aquela que começa na concepção e termina na morte)?

Porque não aprofundamos mesmo a questão e, uma vez que existimos desde toda a eternidade, isto é, antes da concepção e para além da morte, não pomos a hipótese de talvez, sim talvez, nem sempre seja bom ser concebido em determinadas circuntâncias?

E se a entidade que já somos antes, estiver sujeita a este condicionalismo fisiológico da concepção, independentemente da sua vontade?

Se já é uma Vida , porque o condenamos sempre a uma existência terrena seja ela favorável ou não?
E se essa vida/alma tiver outras oportunidades de se vestir com um outro corpo humano, em outro momento de concepção impregnado de amor, (sim, porque acredito que esta é apenas uma vestimenta para a minha alma)?


Sendo assim, pode ou não pode ser um acto de amor, interromper uma gravidez? E pelo contrário, prossegui-la um erro grosseiro e egoísta, uma irresponsabilidade?

E já agora, este apego desmedido à vida e o apego que impomos a todas as mães para terem os filhos quer ela queira quer não, não será apenas um vício?

Um vício que se manifesta em tantas coisas, (por exemplo em ter filhos para cuidarem de nós na velhice e em todos os os actos de egoísmo tantas vezes disfarçados de abnegação), mas que se manifesta principalmente nesta absoluta doentia relação com a morte que as sociedades cultivam.

Acredito que Deus é Amor. E sinceramente acho que na infinitude Dele e da Vida, não dará assim tanta importância a esta ideia tão limitada da concepção que fazemos da vida apenas terrena.
"Deus dá a Vida, só Deus a pode tirar" Exactamente : tirar a vida, podemos dizer que nos tira a vida (terrena) a todos, não obstante, não deixa de nos amar ! Muito pelo contrário (acho eu)É o nosso assassino amoroso por excelência! Se a vida terrena fosse assim tão intocável, Ele, que é de uma Sabedoria e Amor infinitos... tirá-la-ia logo a todos, sem excepção?

Tenho pensado mesmo muito sobre o que Cristo faria neste referendo. Por todas estas razões, custa-me a crer que ele impusesse uma continuação de gravidez a qualquer mulher que o não desejasse profundamente.

Mas isto sou eu... talvez errada, como todos podemos estar errados e só um dia no seio de Deus teremos a resposta. Sendo assim, porquê impor as nossas ideias a todos os outros nossos irmãos, enfiarmo-nos nas suas consciências e fazermos de Deus?

Anónimo disse...

"Aborto - direito a DECIDIR".

Um nome muito interessante. Eu gostava de saber o que é que os defensores do Sim têm feito ou pretendem fazer pelas grávidas que têm dificuldades e DECIDEM ter os seus filhos. Pelas que optam por abortar, já se vê que querem que sejam despenalizadas e tenham acesso a aborto pago pelo Estado (e se ela for pobre, aborta e a vida dela fica na mesma).

É que os do Não têm criado condições para as mulheres que DECIDEM criar os seus filhos. Os do Não têm criado condições para as mulheres que DECIDEM entregar o seud filhos a famílias que os desejam não os podem ter. Os do Não têm criado condições para que, desde o último referendo, mais de 10.000 crianças em risco tenham nascido e sido acolhidas pela sociedade. E o Estado, infelizmente, tem-se demarcado desse dever. Tem-se demarcado do dever de incentivar a natalidade neste país envelhecido, de proteger as trabalhadoras grávidas, de dar abonos de família aceitáveis e de dar tempo para a maternidade/paternidade.


E se a essas mulheres não tivessem sido dadas a essas opções que o Não deu, elas só teriam uma: a que o Sim está a defender e que pode acarretar múltiplas mazelas. É que, legal ou ilegal, o aborto representa sempre um risco e um traumatismo físico e psicológico para a mulher. O aborto por sucção ou operação em clínicas e hospitais legais, pode provocar cancro de mama, esterilidade, tendência para aborto espontâneo, infecções que podem levar à histerectomia, depressões e até suicídios. O aborto químico (comprimidos), cujos efeitos sobre a mulher são em grande parte desconhecidos, quadruplica o risco da mulher vir a fazer um aborto cirúrgico. Em qualquer dis casos, a mulher está sujeita a ter futuras gravidezes de risco e/ou bebés com malformaçoes. E o trauma pós-aborto deixa múltiplas sequelas psicológicas durante anos.
É apenas para a decisão menos humana, mais egoísta e mais penosa que o Sim se mexe.

Anónimo disse...

Já agora, cara anónima...

Pelas suas ideias esotérico-fantáticas, suponho que seja a D. Alexandra Solnado e até fale com Jesus, para saber tanto do que ele faria se viesse votar no referendo.

"Porque não aprofundamos mesmo a questão e, uma vez que existimos desde toda a eternidade, isto é, antes da concepção e para além da morte, não pomos a hipótese de talvez, sim talvez, nem sempre seja bom ser concebido em determinadas circuntâncias?"

Existimos desde toda a eternidade? Eu conheço muitos cristãos e nenhum diria o mesmo, seja luterano, ortodoxo, católico... Antes de sermos concebidos, não somos entidade nenhuma. Está a querer dizer que todos os humanos são Deus?

"Se já é uma Vida , porque o condenamos sempre a uma existência terrena seja ela favorável ou não?"

Sendo assim, somos todos uns condenados ao martírio de viver na Terra?

"E se essa vida/alma tiver outras oportunidades de se vestir com um outro corpo humano, em outro momento de concepção"

Reencarnação? Isso não é uma coisa dos hindus? Olhe, se calhar a sua mãe devia tê-la abortado e deixá-la nascer mais tarde como uma borboleta, um cogumelo, uma avenca ou um cão. Pelo menos não estaria aqui a escrever disparates. Um feto morto não continua. Não vai nascer de novo. Nunca vamos ver aquela pessoa na Terra, nunca veremos o que ela poderia fazer no mundo. Já viu o D. Sebastião regressar de Alcácer-Quibir?

"Sendo assim, pode ou não pode ser um acto de amor, interromper uma gravidez?"

Sendo assim, pode ou não ser um acto de amor matar o meu bebé de dois meses porque estou com uma depressão pós-parto e não sei cuidar dele? Sendo assim, pode ou não a C(...) matar o seu filho de dois anos, porque está desempregada e tem sérias dificuldades?
Pode ou não ser um acto de amor a M(...) aniquilar o seu filho adolescente, que se está a tornar num marginal e ela já não tem paciência para ele?

PODE OU NÃO SER UM ACTO DE AMOR PROCURAR AJUDA PARA DEIXAR O BEBÉ NASCER E CRESCER, SENTINDO-SE ACOLHIDO PELA SOCIEDADE??

Acho que precisa muito de se esclarecer a nível religioso. Ou é ou não é.
E principalmente a nível humano, porque este referendo não é uma questão de religiões. A opinião de cada um pode ter influência religiosa, mas ela nunca serve de fundamento num estado laico como é Portugal.

Anónimo disse...

http//pormirandela.blogs.sapo.pt o blog onde podes expressar as tuas opiniões.

Visita e deixa o teu depoimento tal como centenas já fizeram!!

Anónimo disse...

Caríssima Lu,

"Um feto morto não continua. Não vai nascer de novo. Nunca vamos ver aquela pessoa na Terra, nunca veremos o que ela poderia fazer no mundo"

Todas as minhas reflexões tinham um se atrás, não reparou?

Agora, repare: as suas foram ditas com uma certeza fulminante! Quem é mais Alexandra Solnado: eu ou a Lu?

Como sabe então que um feto morto não continua, não vai nascer?

Eu apenas coloquei a questão; mas a Lu já falou então directamente com Deus, não foi?

Depois falou em bebé, em criança e em adolescente mas sabe, há uma pequenina diferença: todos eles já nasceram!


E o que realmente nos distancia é isto:

eu tenho dúvidas e com base nelas voto sim porque sei que ninguém sabe tudo sobre esta matéria. Sendo assim, vou manter uma lei que criminaliza mulheres por fazerem algo que eu não sei se é certo ou errado? Não, dou o benefício da dúvida às mulheres, compreendo-as e não contrbuo para um maior sofrimento para além daquele que já têm ao abortar.


Já a Lu tem a CERTEZA que está CERTA e portanto acha que tem o direito de defender uma lei que criminaliza os que não pensam como a a Lu!

Quem estará mais equivocada, minha amiga?

Na dúvida, era melhor dar o benefício da dúvida, não?

"Olhe, se calhar a sua mãe devia tê-la abortado e deixá-la nascer mais tarde como uma borboleta, um cogumelo, uma avenca ou um cão. Pelo menos não estaria aqui a escrever disparates."

É verdade sim senhora! O que a Lu não sabe é que já disse exactamente isso à minha mãe. Pelo Amor que lhe tenho, por saber que não me desejou e pelo que ela passou, já lhe disse que não me importava que me tivesse abortado. Como vê, também abdicava da minha existência pelo Amor da minha mãe! Mas isto é capaz de ser um bocadinho demais para si, não é? É que o amor sobrepõe-se à vida, pois daríamos a vida por quem amamos, não é o que dizemos?

E sabe de uma coisa? Beijinhos e bons votos

Anónimo disse...

Lu,

1-Já pensou todos os actos de prevenção feitos por gente do sim por esse país fora?
Claro que os preservativos distribuídos é trabalho que não se vê, porque evitou as gravidezes indesejáveis!

2- O sim não defende só a solução fácil do aborto! Também defende o trabalho desenvolvido pelos do não! Já ouviu dizer a alguém do sim que é contra o trabalho realizado pelos do não? Pode não ter notado, mas todos estamos a querer defender e ajudar as mulheres, de todas as maneiras que pudermos, inclusivé, não as penalizando com uma lei injusta!

3- "E o Estado, infelizmente, tem-se demarcado desse dever. Tem-se demarcado do dever de incentivar a natalidade neste país envelhecido, de proteger as trabalhadoras grávidas, de dar abonos de família aceitáveis e de dar tempo para a maternidade/paternidade."

É precisamente por isso,por nem todas as mulheres terem direito à ajuda necessária e suficiente, que não podem ser penalizadas por esta lei !

"E o trauma pós-aborto deixa múltiplas sequelas psicológicas durante anos".

Muitas destas sequelas psicológicas poderiam ser evitadas se a sociedade e as suas leis não lhes dissessem constantemente que são criminosas, não lhe parece?

Reflicta bem e pense pela sua cabeça e verá que ainda vai votar sim.

Unknown disse...

Eu acho um trabalho de grande valor o do apoio à maternidade. O do apoio a mães solteiras, abandonadas, seja o que for. Mas esse trabalho não é só da área do NÃO. Tenham lá calma porque as pessoas da área do SIM não adormeceram durante oito anos. Também temos centros de apoio à maternidade, ao combate à violência doméstica, etc etc... A questão, como foi já referida, é a de que a mulher não nasce, necessariamente, para ser mãe. Nasce para ser Mulher. E apenas será mãe quando e se quiser. Eu não posso obrigar ninguém a assumir uma maternidade... Tem que ser uma escolha responsável, pensada, desejada (lá está...). Uma mulher não é uma parideira. É uma cidadã plena de direito. Com direito a ter a vida que desejar, tal como a planear.
Se uma mulher engravida e quer assumir essa gravidez, óptimo! Se quer mas não tem condições, ajude-se! Se não quer, não a podemos prender.
É essa a questão. Não a podemos prender.