De facto, só votando "sim" em 11 de Fevereiro se pode pôr fim a essa triste realidade que, na metáfora do senhor patriarca, é o "aborto de vão de escada". Estou certo de que, nesse dia, muitos católicos irão votar "sim"
Eu, agnóstico de confissão, tenho de aplaudir o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, quando, a propósito de considerar desnecessário alterar a actual lei sobre a interrupção voluntária da gravidez, assim o entendeu porque "o cruzamento dos métodos anticoncepcionais com os métodos abortivos e as soluções químicas para a interrupção da gravidez fizeram diminuir a realidade do aborto de vão de escada".
E aplaudo porque, numa síntese fabulosa, conseguiu clarificar que a Igreja passou a tolerar a utilização de todos os métodos anticoncepcionais e até os "métodos abortivos". Fiquei surpreso, ainda que admita estar mal informado, porque julgava que a Igreja só aceitava os métodos "naturais" (o velho calendário, o prático coito interrompido e o sofisticado método das temperaturas).
Registo, pois, com agrado, este passo de gigante dado pela Igreja, que a partir de agora tolera o uso do preservativo, da pílula e até da pílula do dia seguinte. Foi isso que depreendi das palavras do senhor patriarca de Lisboa, que, estou disso certo, na sua sabedoria e temperança, nunca as teria dito como mero expediente argumentativo de ocasião referendária, onde as emoções mais primárias andam à solta.
E fiquei ainda satisfeito por verificar que não agrada ao senhor patriarca "a realidade do aborto de vão de escada". Não tivessem eles diminuído e, depreendo das suas palavras, estaria de acordo que a lei sobre a interrupção voluntária da gravidez fosse alterada.
Concedo que, nas últimas décadas, com a febre imobiliária que grassou no país, o aborto passou do "vão de escada" para o "apartamento de subúrbio", mas, infelizmente, isso não alterou a natureza clandestina da intervenção.
E, de facto, é por isso que só votando "sim" em 11 de Fevereiro se pode pôr fim a essa triste realidade que, na metáfora do senhor patriarca, é o "aborto de vão de escada". Estou certo de que, nesse dia, muitos católicos irão votar "sim" e creio que as suas palavras de tolerância são seguramente importantes para que votem em consciência e tendo em consideração a liberdade e a dignidade das mulheres e dos homens deste país.
[José Pacheco, sexólogo clínico, artigo de opinião hoje no "Público"]
sexta-feira, janeiro 19, 2007
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