Paula Gonçalves
O neurocirurgião João Lobo Antunes considerou "desastrosas" as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, quando, referindo-se à liberalização do aborto, disse que a ética da profissão não pode ser alterada "segundo a moda social".
O comentário do especialista surgiu em resposta a uma questão levantada, num debate, em Coimbra, pelo jurista António Arnaut sobre se os médicos, caso seja liberalizado o aborto, "podem recusar-se a cumprir uma lei da República". "Isto não é uma moda social", frisou o neurocirurgião, ao lembrar que o Código Deontológico deve sofrer uma "actualização inteligente", admitindo que deverá consagrar, em relação a esta matéria, "uma objecção de consciência".
Durante o debate "A Ética das Profissões Liberais", organizado pela República do Direito e Fórum das Profissões Liberais, João Lobo Antunes falou dos problemas éticos que hoje se colocam aos médicos, sublinhando que muita coisa mudou nos últimos anos, desde o relacionamento com o paciente até à prática médica. A própria medicina é hoje "um negócio", afirmou, ao lembrar que se criou "uma cultura empresarial". Apesar de considerar este negócio "perfeitamente legítimo", sublinha a necessidade de o regulamentar bem. Referindo-se aos conflitos de interesses, citou, nomeadamente, as relações com a indústria farmacêutica que, em sua opinião, têm de ser transparentes. Reclama, a propósito, uma regulamentação exigente dos conflitos de interesses. Exemplificou com o que se passou nos Estados Unidos da América, onde se chegou à conclusão que "os médicos que eram donos de TAC prescreviam 54% mais exames do que os que não eram donos de TAC", para concluir "Isto é uma empresa, mas tem que ser limpo".
quinta-feira, novembro 02, 2006
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